MOÇAMBIQUE - 1 - Um pouco de história

De 06 a 12 de setembro de 2007 tive oportunidade de visitar Moçambique,- país africano de fala portuguesa- a convite do Dr. Paul Müller, integrando uma pequena comitiva em visita à Igreja Evangélica Luterana em Moçabique. - Um pouco de história e cultura geral faz bem; compartilho as informações tiradas de um Guia Turístico:
"Os povos primitivos de Moçambique foram os Bosquímanes. Entre os anos 200 a 300 DC, ocorreram as grandes migrações de povos Bantu, oriundos da região dos Grandes Lagos a Norte que empurraram os povos locais para regiões mais pobres ao Sul. - Nos finais do Sec. VI, surgiram nas zonas costeiras os primeiros entrepostos comerciais patrocinados pelos Swahili-árabes que procuravam essencialmente a troca de artigos vários pelo ouro, ferro e cobre vindos do interior. No século XV, inicia-se a conquista portuguesa com a chegada de Pêro da Covilhã às costas moçambicanas e o desembarque de Vasco da Gama na Ilha de Moçambique. Desde 1502 até meados do Séc. XVIII, os interesses portugueses em Moçambique estavam sob a administração da Índia Portuguesa."
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Foto: A Av. beira-mar em Maputo, capital de Moçambique, bem ao Sul do país.


"De início os portugueses criaram feitorias com objetivos meramente comerciais, a que se seguiu a fixação no litoral, ondem construíram, em 1505, a fortaleza de Sofala e, em 1507, a fortaleza na ilha de Moçambique. Só alguns anos mais tarde, na tentativa de dominarem as zonas produtoras de ouro, se aventuraram para o interior onde estabeleceram novas feitorias. Às feitorias, sucederam-se nos finais do Séc. XVII os 'prazos' no Vale do Zambeze, uma espécie de feudos doados ou conquistados e que constituíram o primeiro estágio da colonização portuguesa. Com a extinção dos 'prazos' em 1832, por decreto régio, e com a emergência dos estados militares, iniciou-se o comércio de escravos que se manteve mesmo após a abolição da escravatura nas colônias, em 1869."


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Foto: A beira-mar, com os coqueiros e o por-do-sol, vendo-se o Oceano Índico que banha toda a cidade e todo o país.






"A partilha da África decidida pela Conferência de Berlim em 1884/1885 obrigava os portugueses a uma ocupação efetiva de todo o território limitado pelas fronteiras reconhecidas naquela Conferência. Perante a incapacidade financeira e militar para tornar efetiva a ocupação, Portugal cedeu os seus direitos de gerir grande parte de Moçambique a companhias magestáticas que até o final dos anos 30 do Séc. XX passaram a explorar os recursos agrícolas e a mão-de-obra do país. - No entanto, a ocupação colonial nunca foi pacífica, tendo-se verificado até o início do Séc. XX forte resistência por parte de vários chefes tribais como Mawewe, Ngungunhana, Komala e outros."






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Na foto: A Baía de Maputo, vend0-se a cidade aos fundos.














"À semelhança do que aconteceu noutras colônias portuguesas, também Moçambique se levantou contra a ocupação colonial portuguesa, iniciando a 25 de setembro de 1964 a luta armada conduzida pela FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique - organização que aglutinou os 3 movimentos criados no exílio então existentes. Durante a luta pela libertação, lideraram o movimento, primeiro, Eduardo Chivambo Mondlane e, após a sua morte a 3 de fevereiro de 1969, Samora Moisés Machel que assumiu a Presidência da República a 25 de Junho de 1975."














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"Em 1994 tiveram lugar as primeiras eleições ganhas pelo Pres. Joaquim Alberto Chissano que tinha sucedido a Samora Machel na Direção da FRELIMO e da Presidência da República após a morte deste num acidente de aviação na vizinha África do Sul. - Presentemente Moçambique é um País democrático, com a realização de eleições livres nos prazos previstos na Constituição, tendo as últimas ocorridas sem qualquer incidente de relevo em Dezembro de 2004 em que foi eleito presidente Armando Emílio Guebuza, também da FRELIMO" - que esteve no Brasil como convidado de honra do Presidente Lula no desfile do último 7 de Setembro em Brasília. Tive oportunidade de ver as reportagens na TV em Maputo quando lá estive de 06 a 12 de setembro último.

Moçambique - 2 - O interior

O interior que conheci é a própria imagem que talvez muitos de nós temos da África: Choupanas de palha redondas e dispostas em círculo, formando pequenas aldeias. Numa das fotos pode-se ver o material com que são construídas estas casinhas. É época de seca, o que agrava o visual destas localidades. - Nos comunicamos em português com todos, mas cada grupo tem a sua própria língua.

Moçambique -3- A nossa visita

Na foto: Rev. Josef Alfazema, pastor em Sena(Moçambique); Rev. Carlos Walter Winterle, representando a Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) a convite do Dr. Paul e que serviu também de tradutor do inglês para o português e vice-versa; Dr. Paul Müller, Diretor para as Missões da África da Lutheran Church - Missouri Synod (LCMS); e Bispo David Tswaedi, da Lutheran Church - South Africa (LCSA).
Rev. Alfazema é moçambicano de nascimento. Saiu do país com 15 anos, na época da guerra, refugiando-se primeiramente na Tanzânia (onde teve contato com a Igreja luterana), depois no Quênia, onde fez o curso de Evangelista no Seminário da Evangelical Lutheran Church in Kenya (ELCK), e depois no Canadá, onde morou 26 anos. Incentivado por sua congregação luterana no Canadá, foi ao Seminário em St. Catharines, Ontário, e formou-se pastor ano passado, voltando à terra onde nasceu como missionário patrocinado por duas congregações da Lutheran Church Canada (LCC). Neste ano de trabalho já fundou 4 congregações, tendo batizado dezenas de pessoas, inclusive 3 chefes de tribos. Faz todo o atendimento de trabalho de bicicleta. Está hoje com 55 anos. Precisa muito de nossas orações e apoio, pois está bastante isolado e só. Sua esposa o ajuda em todo o trabalho. Uma filha ficou estudando no Canadá e outros dois filhos estudam no Quênia. - Maiores detalhes da sua história e do seu trabalho podem ser vistos em www.kapasseni.org
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Na foto: Bispo David Tswaedi, Rev. José Mabasso, Presidente da Igreja Evangélica Luterana em Moçambique - (IELM). Sra. Joy Müller, esposa do Dr. Paul Müller e responsável da Lutheran Church-Missouri Synod (LCMS) para projetos das Áreas de Missão e Serviço Social para a África, e Rev. Dr. Paul Müller.

Um representante da IELM, Sr. Armando João Manhisse Jaiquira, enviou diversos e-mails ao Dr. Paul, solicitando sua presença no país para possíveis apoios a projetos da IELM, o que motivou o início do planejamento da visita a Moçambique. Infelizmente o Sr. Armando não pode estar nas reuniões, pois onde ele mora fica muito longe ao norte do país. Mas o Rev. Mabasso fez as honras de "dono da casa". Tivemos reuniões com ele e com lideranças da igreja, apresentando possibilidades de parcerias futuras em projetos, e ele nos acompanhou a todos os lugares que visitamos. Nos levou em seu carro na terça-feira para Nwachicoluane, Lionde e Cókwé, numa viagem de 3 horas para o norte de Maputo (veja postagens seguintes). Aguardamos manifestação da IELM em seu Concílio em janeiro/08 para a continuação das conversas.

Moçambique - 4 - A Igreja Luterana

A IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA EM MOÇAMBIQUE - IELM - tem cerca de 5000 a 7000 membros, 3 pastores, 6 diaconisas, 4 evangelistas e 5 catequistas. A grande maioria das congregações fica no norte do país, fruto do trabalho da diaconisa da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB, Irmã Doraci, que foi assassinada há alguns anos atrás por opositores do seu trabalho social e evangelístico.
Na foto maior, a Igreja Martinho Lutero, muito bem localizada na cidade de Maputo. Estávamos hospedados num prédio dentro desta propriedade, nos fundos da igreja, onde também mora o Pastor José Mabasso, Presidente da IELM, que estudou na Escola Superior de Teologia da IECLB em 1995/96 por um ano e meio, tendo ótimas lembranças do Brasil e dos churrascos que lhe ofereceram.
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No domingo fomos no culto no bairro de Maxaquene, um subúrbio de Maputo. O Bispo Tswaedi dirigiu a mensagem. Um grupo de jovens cantou várias músicas em ritmo africano, muito bem cantadas! - Após o culto, um costume bonito cultivado por várias igrejas na África (vivenciei isto também quando estive em Angola há alguns anos atrás): O pastor se pára na porta da igreja para os cumprimentos e o primeiro que sai cumprimenta o pastor e se pára ao seu lado; o próximo cumprimenta o pastor e o que está parado ao seu lado, e se pára também para receber os cumprimentos; assim sucessivamente; e todos acabam cumprimentando a todos!

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A Igreja Martinho Lutero também é usada por um grupo evangélico interdenominacional ligado às Embaixadas e ONGs. No sábado à tarde havia uma banda jovem ensaiando música gospel internacional. (Como não podia deixar de ser, um dos jovens estava com uma camiseta da seleção brasileira... coisa comum de se ver tanto em Moçambique como no Quênia).

Moçambique - 5 - A Federação Luterana Mundial

Na segunda-feira tivemos reunião com o pessoal da Federação Luterana Mundial (FLM) em seu escritório em Maputo. O Sr. Lucas Owuor-Omondi falou em nome da FLM, apresentando a sua história em Moçambique e seus projetos.Dr. Paul Müller explicou os motivos da nossa ida a Moçambique e a possibilidade de parcerias através da IELM.
A FLM teve um papel muito importante no apoio aos refugiados na guerra contra os portugueses. Muitos moçambicanos haviam fugido para a Tanzânia, um país com forte influência luterana a partir da colonização pela Alemanha. Também na volta destes refugiados a Moçambique, a FLM ajudou-os a se estabelecerem, o que foi reconhecido pelo primeiro Presidente do país Samora Machel, que ofereceu à FLM um terreno muito bem localizado na cidade de Maputo para a construção de uma igreja. É a atual igreja Martinho Lutero e a Casa de Hospedagem em que ficamos alojados. Assim nasceu a Igreja Luterana em Moçambique.
A FLM desenvolve vários projetos em diversas Províncias (=Estados) de Moçambique, tanto na área de agricultura, como nas áreas de saúde, inclusão social e diversas outras.
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NWACHICOLUANE


Nesta localidade, um conjunto de salas da FLM serve como local de treinamento para a população local, principalmente para os jovens. Vários rapazes e raparigas (moças) fazem curso de corte e costura; outros aprendem o ofício de carpinteiro (estavam fazendo um caixão quando chegamos lá); e todos têm a oportunidade de serem orientados na prevenção contra a AIDS, que, pelo que me consta, é a causa de maior mortalidade na África.


A sra. Joy Müller se interessou muito por estas atividades, relacionadas à area de Assistência Social pela qual ela é responsável também.

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CHÓKWÉ

Tivemos também um bom contato com o pessoal do escritório da FLM na cidade de Chókwé, a 3 horas de viagem de carro de Maputo. O Diretor do Projeto Gaza (nome da Província= Estado), junto com sua equipe, expôs os diversos projetos desenvolvidos pela FLM na região: irrigação, introdução do cultivo da mandioca e seu aproveitamento (farinha de mandioca, p.ex.), o aproveitamento do fruto de amarula; cuidados na área da saúde e higiene; e vários outros projetos, como os descritos acima.

De Chókwé voltamos a Maputo, chegando já à noite, pegando toda a "tranqueira" de trânsito na cidade no início da noite (anoiteceu às 18h).

Moçambique - 6 - Alguns contatos

NWACHICOLUANE

Em Nwachicoluane nos reunimos com os líderes da igreja nas dependências da FLM, que também servem de local de cultos. Dr. Paul explicou os motivos da nosa visita e eu tive oportunidadede dirigir uma pequena mensagem bíblica. - Após a reunião fomos convidados a almoçar na casa do Evangelista responsável por aquela congregação. Tinham arrumado uma mesa muito limpinha neste cubículo que aparece na foto maior, do lado de fora da casa; e serviram ugali (polenta de milho branco), arroz cultivado por eles mesmo, e um franguinho ensopado.

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LIONE

Em Lione tivemos uma reunião com os líderes da igreja local. A reunião aconteceu no meio da aldeia, embaixo de uma árvore. O trabalho é dirigido por uma catequista, Martina (de camiseta azul). O Pastor Mabasso vem a cada dois meses celebrar cultos com Sta. Ceia. Lione fica a quase 3 horas de Maputo, de carro. - Pastor Mabasso contou que na época da guerra civil ele ia de ônibus atender estas congregações; por duas ocasiões o ônibus foi parado por rebeldes e só pela graça de Deus que não foram todos mortos e o ônibus incendido.

Moçambique - 7 -

A VIAGEM DE VOLTA

Partimos de Maputo no dia 12 de setembro de volta a Nairobi, com a Kenya Airlines. Fizemos uma escala em Zimbabwé. Chegamos em casa à noite, com muita coisa para "ruminar" desta nova experiência africana. Agradecemos a Deus pela proteção e pelos bons contatos que tivemos. - Já perto de Nairobi, vimos o Kilimajaro...

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KILIMANJARO

Com um pouco de imaginação pode-se ver a imagem que tive do Kilimanjaro, o monte mais alto da África, na divisa entre a Tanzânia e o Quênia . Devido ao aquecimento global, suas neves "eternas" estão derretendo.

Esta foto do Kilimanjaro foi tirada pelo Rev. Peter Ahlers, Pres. da Igreja Luterana (FELSISA) na África do Sul, quando ele veio a Nairobi em agosto do ano passado. Ele teve sorte de pegar tempo claro, e o piloto fez uma rasante para os passageiros verem o Kilimanjaro bem de perto.

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Compartilho uma impressão geral que estou tendo da África (pode ser muito subjetiva...): As coisas aqui pularam muito rápido do primitivismo para a moderna tecnologia; ou melhor: ainda estão pulando. É o contraste do qual falei em outra ocasião. E isto ficou mais uma vez demonstrado nesta viagem a Moçambique.
Ouvi no rádio hoje de manhã que o continente africano é o que mais está crescendo na telefonia móvel em número de aparelhos nestes últimos cinco anos. Realmente, vemos entre o pessoal da igreja com quem convivemos: jovens pobres e desempregados, mas têm celular.
Outro detalhe: Há pouco tempo a África passou do colonialismo para a independência de seus países. Em l884/l885 aconteceu uma conferência em Berlim na qual diversos países da Europa dividiram entre si a África...Todos os países eram colônia de algum país europeu, com excessão da Libéria, país criado pelos Estados Unidos para abrigar os seus ex-escravos que desejassem voltar para a África após o fim da escravatura nos EUA. A Nigéria foi o primeiro país a se tornar independente e celebrou este ano com grande pompa os seus 50 anos de independência. E, geralmente, após a independência seguiram-se severas guerras civis entre as tribos, cada uma querendo garantir o domínio da nova pátria.
Bem, um pouquinho de história não faz mal a ninguém. Espero ter colaborado com um pouco de cultura geral nesta postagem do BLOG. Abraços.