domingo, 27 de maio de 2007

COSTUMES E TRADIÇÕES - 1









Quero compartilhar hoje alguns costumes e tradições no que diz respeito a funerais. Sei que o assunto não é muito agradável para alguns; mas como cristãos temos a esperança da ressurreição em Jesus e a morte é o completar do ciclo batismal: pela morte entramos na vida que jamais acaba. Esta é a obra do Espírito Santo, cuja festa celebramos hoje: PENTECOSTES. Ele é SANTO, e nos SANTIFICA na SANTA Igreja Cristã - a comunhão dos SANTOS através da REMISSÃO DOS PECADOS; e um dia, através da RESSURREIÇÃO DA CARNE ele nos levará à VIDA ETERNA, como confessamos no Terceiro Artigo do Credo Apostólico. Ilustro esta postagem de sete quadros do BLOG com flores do nosso jardim e da nossa cidade (uma foto mostra flores da Alemanha), e flores que enfeitam a nossa casa semanalmente, pois as flores aqui são muito bonitas e baratas. Flores são uma expressão da nossa esperança cristã. "Não nos entristeçamos como os demais, que não têm esperança. Pois se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará em sua companhia os que dormem" (I Ts 4.13 e 14).
Compartilho uma carta que a Lídia escreveu para os filhos no dia em que fiz o primeiro enterro aqui no Quênia (14/05/07). É isto o que vimos, sentimos, experimentamos e nos emocionamos.

Costumes e Tradições - 2





"Oi meus queridos filhinhos:

Pois é, hoje tivemos de novo mais uma coisa pra contar. O pai foi chamado pra fazer o enterro daquele rapaz que falamos ontem; ele é da tribo Sam Mburu, e a tribo dele fica muito longe daqui, umas 15 hs de viagem. Ele foi trazido pra fazer exames, pois tinha sérios problemas no coração; o caso dele seria só cirúrgico e ele teria de arrumar dinheiro pra tal. Como ele não tinha condição de voltar pra casa, ele ficou na casa de alguém da tribo dele que mora em Nairobi, enquanto a família tentava arrumar o dinheiro.
Não deu tempo; ele morreu dia 7 de maio e só foi enterrado uma semana depois, como é costume entre a maioria aqui. Bem, as tradições aqui são muito estranhas, estamos aprendendo muita coisa. A pessoa quando é solteira, deve ser enterrada na cidade onde morreu. Outra coisa, aqui eles não tem certidão de nascimento, ninguém sabe ao certo que dia nasceu, nem os pais sabem a idade do garoto; aí, ele tem entre 13 e 15 anos. Observamos as cruzes no cemitério: normalmente só tem o ano do nascimento (aproximado) e a data da morte.

Os pais dele não vieram pra ver o corpo, pois a mãe não pode chorar nem se aproximar dele; mas e aí, o que fazer; alguém tem que enterrar. Na aldeia dele, moram duas missionárias americanas; uma delas é enfermeira(Gloria) e já mora lá há 14 anos; a outra (Julia) está lá só há sete meses. Elas vieram pra providenciar o enterro do Antony Lerokole ,esse é o nome dele; elas são Luteranas,e pediram um pastor; ( os pais e o Antony tb são Luteranos. ) Aí entra o pai...."





Costumes e Tradições - 3







"...Bem, como combinado, elas telefonaram quando saíram da casa mortuária, trazendo o corpo ( no centro da cidade ); como não nos conhecíamos, disseram que estavam com uma ambulância . Pai e eu ficamos no portão do cemitério esperando, elas chegaram, só as duas e o caixão (a enfermeira Gloria era a motorista da ambulância, que pertence à missão em Sam Mburu). Nossa que coisa, só nós quatro. Aí fomos com um rapaz do cemitério pra ele nos mostrar onde seria enterrado. Sabe como é, aqui ninguém faz nada sem pedir algo; então o rapaz ficou parado, e só sobrou nós 3 mulheres e o pai pra tirar o caixão do carro; aí eu vi dois caras mais adiante e chamamos eles pra nos ajudar; eles vieram e ajudaram a colocar o caixão no buraco e o pai teve que ajudar também. O pai fez a liturgia do enterro, cantamos um hino, eles colocaram a terra, nós levamos um buquê de rosas e as americanas levaram um arranjo de flores muito bonitinho; deu pra ver o carinho delas; foi muito triste tudo aquilo; nós quatro nunca nos vimos e estávamos ali por uma coisa tão importante; nem uma só pessoa da família dele estava. A enfermeira tirou fotos, pra mostrar pros pais dele, mas ela acha que eles não vão querer ver; mas ela documentou. Claro que elas tiveram que dar um dinheiro para os dois que ajudaram.

A enfermeira nos contou alguma coisa da tradição da tribo Sam Mburu; diz que quando morre uma pessoa, eles não enterram, eles levam pro meio do mato, e deixam o corpo lá pras hienas, e outros bichos comerem; mas a prefeitura agora não quer que eles façam mais isso, e estão obrigando eles enterrarem seus mortos. Mas eles fazem de conta que vão enterrar, e jogam no mato mesmo; não é possível mudar as tradições deste povo.

No Kenya tem muitas tribos; algumas: Maasai, Kikuyu , Luo, Luhya , Kalenjin , Meru , Ogiek. Algumas são bem rivais . As pessoas aqui sabem distinguir muito bem umas das outras; algumas andam com roupas muito coloridas e muitos enfeites; eu não sei como sabem diferenciar , mas cada tribo tem seus costumes , pra nós, cada um pior que o outro.

Pois é, mais uma experiência do nosso trabalho aqui. Como pode um mundo com pessoas como nós, serem tão diferentes, com costumes tão estranhos, chega a ser difícil entender.............Ou será que somos nós os diferentes !!!

Sei lá....
Por hoje é isso; quando me lembrar de mais alguma coisa escrevo pra contar.

Beijos e mais Beijos pra vocês.
e ainda .....
mais Beijos de quem os ama muito.
Lidia"

Costumes e Tradições - 4 -


Enquanto algumas tribos "cultivam" as tradições fúnebres, já os massais abandonam os seus mortos na beira da estrada. Os massais estão sempre andando com o seu gado em busca de pasto, e muitas vezes peregrinam pela cidade também. Quando um deles morre, é deixado ali mesmo. Uma estudante de medicina me contou que o corpo e recolhido e levado para os alunos estudarem anatomia nas universidades. O que para alguns é sagrado, para outros é desprendimento puro.








Costumes e Tradições - 5


A maioria do pessoal espera mais de uma semana para enterrar os seus mortos. O corpo fica guardado no hospital e é embalsamado, para dar tempo de avisar todos os parentes. Dizem que todos tem que ver o morto! Lógico que isto gera um bocado de despesas (veja quadro seguinte). Com a vinda de todos os parentes, é costume oferecer refeição para todos eles. Ouvi de famílias que se endividam para o resto da vida com as despesas de funerais. Algumas igrejas cristãs, num gesto de solidariedade e para não sobrecarregar a família enlutada, assumem esta questão da alimentação para os familiares que vêm de longe e ficam, às vezes, vários dias.




Costumes e tradições - 6








Outro costume para mim "chocante" é o de arrecadar dinheiro para ajudar a família enlutada. A intenção é boa, mas a forma como é feita.... parece um leilão de "quem dá mais". Fui numa ocasião dessas quando faleceu o 2º pastor formado no Quênia. O evento foi divulgado uma semana antes e no culto também. O próprio Bispo e o secretário geral da igreja presidiram a cerimônia. (Não é "missa" de corpo presente; só tinha um representante da família). Depois de um breve histórico do falecido, uma leitura bíblica e oração, o pessoal foi convidado a ir até a frente dar sua oferta, que era divulgada em voz alta! Daí o Bispo tirou do bolso 4000,00 shillings; APLAUSOS!!! O pessoal começou se empolgar; foi outro lá e deu 2000,00... PALMAS... e assim por diante. Quando contaram o total, faltavam um tanto para alcançar Ksh 40.000,00; o pessoal foi levando trocados, moedas, etc., até alcançar os Ksh 40.000,00. Ontem fomos visitar um dos filhos do falecido pastor; este filho é o Tesoureiro geral da igreja aqui. Ele disse que no total ganharam mais de KSH 100.000,00 (US$ 1,00 = KSH 70,00) para ajudar nas despesas do funeral. - Se a moda pega no Brasil....

Costumes e Tradições - 7 -



Bem, o assunto não é tão empolgante assim, mas achei por bem compartilhar com os amigos. À medida que vamos vivendo aqui, vamos aprendendo também. Para aliviar o assunto, procurei ilustrar com as belas flores que temos aqui, a maioria conhecidas nossas, mas o que impressiona é a quantidade e o colorido. O Kenya é um grande produtor de flores para exportação. Cada dia vai um avião fretado para a Europa.
Um abraço e até qualquer hora dessas.

sábado, 5 de maio de 2007

CONTRASTES - 1 - A Paróquia

"Para não falar só de flores", como foram as duas últimas edições do Blog, quero apresentar um pouco dos contrastes desta cidade, a partir da nossa paróquia. A paróquia reflete o que se vê em toda a cidade: riqueza e pobreza, cuidado e desleixo, limpeza e sujeira...
Nossa paróquia é composta de quatro congregações, sob a supervisão do Pastor Enos Omodhi. Na foto: A igreja-sede, bem central: a Uhuru Highway Lutheran Cathedral.

Contrastes - 2 - Kawangware - A Igreja

A 2ª igreja da paróquia fica no meio da favela de Kawangware, dentro do perímetro urbano. Perto dali tem um belo shopping-center e um bairro de classe média alta. A igreja é bonita, contrasta com o realidade local. Os membros são, na sua maioria, moradores desta favela. Tem uma boa liderança e uma vida comunitária mais ativa que a sede. Tem o maior coral da paróquia.

Contrastes - 3 - Kawangware

Esta congregação tem vários programas sociais muito bons. Por ex.: Na foto aparece um grupo de meninos de rua. Ele tem programações especiais todas as semanas, lideradas por jovens da congregação (alguns deles ex-meninos de rua); recebem sabão para tomar banho e para lavar suas roupas. Mas depois voltam de novo para dormir nas ruas. Um dos sonhos é ter um abrigo para estes meninos.
Outro trabalho que desenvolvem é com mulheres aidéticas, dando aconselhamento, orientando para médicos... Também há um trabalho de apoio para os órfãos aidéticos.
O interessante é que a maioria da Diretoria da congregação é composta de jovens adultos provenientes do trabalho missionário na favela. Os professores de Escola Dominical são rapazes, muito dedicados no trabalho com as crianças. O grande problema destes líderes jovens é o desemprego: vivem de bicos.

Contrastes - 4 - Kiambu

Kiambu é a menor e mais pobre congregação da paróquia. Fica a uns 20 km da igreja, em direção oposta de onde moramos. Tem um bom terreno, mas a igreja é este barraco de madeira que vemos aí. O Evangelista Francis é o responsável pelo trabalho; e o pastor Omodhi vai periodicamente lá celebrar a Santa ceia. Ele precisam urgentemente de uma construção melhor para seus cultos; esta aí "assusta" os visitantes. A maioria dos membros veio de Uganda, em busca de trabalho; uma opção é trabalhar nos cafezais perto desta igreja.
(Na foto: em pé: P.Omodhi, Ev. Francis, P.Wayne Graumann (Tx, EUA), Jacob Maiko (Pres. da congregação), CWWinterle; agachados: Evelyn Jane e Nelson (jovens da congregação).

Contrastes - 5 - A igreja

A igreja de Kibera é a 4ª igreja da paróquia. Construída no meio da favela, tem um terreno grande e foi construída com doações do exterior, (como também as outras duas igrejas), sofrendo influência da arquitetura estrangeira. Há planos para construir uma cancha de basquete, uma escola secundária e um ambulatório médico, tudo com recursos de voluntários luteranos americanos que vêm periodicamente trabalhar na favela.
O sr. de gravata é o Emmanuel, grande líder desta congregação e também na paróquia. Veio para a igreja luterana quando jovem, juntamente como atual Diretor da Hora Luterana daqui, o Evangelista Sylvester, o atual presidente da congregação e muitos outros que são originários da favela. (Na foto: com um grupo de voluntários americanos; o de calça escura e camisa branca é o Rev. Dr. Dave Birner, do Departamento de Missão da LCMS, em visita a Nairobi.)

Contrastes - 6 - Kibera, a favela (a)

Saindo da igreja, logo nos deparamos com os barracos. No buraco à frente deste casebre da foto passa o trem.
Kibera é a maior favela da África. Dizem que metade da população de Nairobi mora nesta favela: Um milhão e meio de habitantes. Há várias outras favelas em Nairobi também, dentro do perímetro urbano. Quando vamos para o centro da cidade, vemos Kibera no caminho. Não há água nem esgoto. Estes dias deu uma enchurrada, e foi insuportável o cheiro do córrego que vinha da favela e passava na beira da estrada que leva ao centro.
Muitos membros da igreja moram em Kibera, também membros da igreja-sede. Vendo-os na igreja, jamais diria que moram na favela.

Contrastes - 7 - Kibera, a favela (b)

"Lata d'água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria..." e "Barracão de Zinco" não existe só no Brasil. Tentei comparar com as favelas brasileiras... é difícil... miséria é miséria em qualquer lugar do mundo. Mas algumas coisas me chamaram a atenção: Vi gente de terno e gravata indo para o trabalho; as crianças não são subnutridas nem "barrigudas" de vermes, como normalmente a mídia mostra as crianças da África. Parece que alimentação não é o maior problema, pois onde se olha tem barraquinhas vendendo frutas, verduras, batata, etc. além de um monte de outras bugigangas.
Bem, amigos, este grande contraste aqui ainda me choca bastante e tento compreender; mas não consigo. É um país com boa gente, que trabalha bem, com excelente clima, bons recursos naturais (o solo é rico)... às vezes parece que estou no Brasil!!!!
Até a próxima.